As trocas de sons fazem parte do processo de aquisição da fala e são esperadas até por volta dos 4 anos, quando a criança já está apta a produzir todos os sons, incluindo os mais complexos como os encontros consonantais.
Idade aproximada para a produção correta de cada som:
Até os 3 anos:
/p/ como em pato;
/b/ como em bola;
/t/ como em tatu;
/d/ como em dado;
/k/ como em casa, queijo;
/g/ como em gato, gol;
/m/ como em macaco;
/n/ como em nada;
/nh/ como em ninho;
/f/ como em feliz;
/v/ como em vaca;
/s/ como em sapo, céu;
/z/ como em zebra, casa.
Até os 3 anos e meio:
/l/ como em lua;
/lh/ como em palha;
{S} como em escola;
/R/ como em rato, carro.
Até os 4 anos:
/ch/ como em xícara, chuva;
/j/ como em janela, gelo;
/r/ como em arara;
{R} como em porta, amor.
Até os 4 anos e meio:
grupos consonantais.
Os problemas de fala se caracterizam pela dificuldade ou impedimento na produção dos sons (fonemas). As alterações mais comuns são:
trocas: /balata/ para barata
omissões: /peda/ para pedra
distorções: som muito próximo, mas diferente do padrão.
O fonema /r/, como na palavra “barata”, está entre um dos mais difíceis de serem aprendidos, principalmente quando está no que chamamos de grupos consonantais: pra, bra, tra, etc. Portanto, palavras como “parede” podem virar “paiede” , assim como “prato” pode estar sendo pronunciado como “pato”. Como os sons são aprendidos progressivamente, afirmar que uma criança apresenta problemas depende de verificarmos se sua dificuldade é ou não esperada para sua faixa etária. Trocar palavras como “bola” por “pola”, “dedo” por “teto”, “gato” por “cato”, podem estar caracterizando dificuldades de pronúncia, mesmo em crianças pequenas. O mesmo ocorre no caso de trocas como “janela” por “zanela” e “chapéu” por “sapéu”.
Causas
a. Problemas de natureza neurológica => áreas motoras do sistema nervoso podem estar lesadas, dificultando a geração e transmissão de impulsos nervosos, acarretando prejuízos na movimentação da musculatura responsável pela produção dos sons da fala. Dificuldades deste tipo são comuns em crianças com lesões motoras, como na paralisia cerebral.
b. Problemas de natureza músculo – esqueletal => nestes casos a fala estará prejudicada por deformidades ou alterações nos órgãos responsáveis pela produção da fala, como é o caso da musculatura facial, lingual, do palato e demais estruturas envolvidas. Podemos citar, como exemplo, os problemas decorrentes das fissuras labiais e palatais.
c. Desvios fonológicos => se caracterizam por alterações sem uma causa orgânica. Embora a criança possua uma integridade neurológica e das estruturas envolvidas na fala, existe uma dificuldade específica para a pronúncia de alguns fonemas. Na maior parte das vezes, são problemas deste tipo que levam as crianças ao tratamento fonoaudiológico.
Interferências
O ambiente familiar pode influenciar, de fato, em alguns problemas de fala. Se tratamos uma criança como se ela fosse um bebê, provavelmente ela venha a se comportar como um bebê. E como é a regra, bebês falam errado. Se, ao invés de darmos padrões corretos de pronúncia das palavras, ficamos pronunciando-as de forma errada, como se fossemos crianças pequenas falando, este é o modelo que nossos filhos estarão recebendo e é ele que será tomado como referência. Por outro lado, podemos também estar exigindo acima das possibilidades da criança, ou seja, não estarmos aceitando o que é normail em determinada idade acreditando que seja, de fato, um problema. Este tipo de exigência ou de expectativa, a qual a criança não tem como responder, pode torná-la insegura em relação à sua fala, o que pode agravar ou dificultar ainda mais a aprendizagem dos sons. Pior ainda, a criança pode criar, de si mesma, uma imagem negativa de falante e passar a evitar situações de comunicação, a fim de não expor suas “dificuldades”.
Como auxiliar
Muito frequentemente, crianças podem necessitar de tratamento fonoaudiológico. Nestes casos os pais podem ajudar, o que não significa que serão técnicos da fala, como os fonoaudiólogos. Mais importante, muitas vezes, são as atitudes que devem ser tomadas e que facilitarão a aprendizagem por parte da criança. Embora cada tipo de problema possa demandar um tipo especial de orientação, podemos dizer que, de modo geral, existem alguma regras básicas. Se nossos filhos estão com problemas de fala infantilizada porque estamos oferecendo para eles padrões também infantilizados de pronúncia, o papel dos pais será o de fornecer modelos mais apropriados, de fala não alterada. Se os pais são muito exigentes e seus filhos estão com dificuldades para falar em função de tal nível de expectativas, devem se tornar mais compreensivos e tolerantes.
Qualquer que seja a situação, a criança deve ser incentivada a falar e sentir que há um clima de expectativa saudável no sentido de que ela aprenda a pronunciar as palavras de uma forma correta. Elas podem ser corrigidas indiretamente, não havendo a necessidade de ficar treinando palavras. Se, por exemplo, uma criança diz para mim algo que não entendo, basta dizer, de modo natural, sem uma carga de ansiedade ou de ridicularização, “O que foi que você disse? “. É desta forma que nós agimos quando não entendemos o que alguém fala. Solicitamos repetição. Caso a criança diga algo de forma errada, posso corrigi-la dando-lhe, de uma forma indireta e bastante eficiente, o modelo correto. Por exemplo ,se a criança diz “O caio da mamãe quebo” (O carro da mamãe quebrou), eu repetirei a mesma frase, mostrando, ao que compreendi o que ela queria dizer e, ao mesmo tempo, dando-lhe o padrão de pronúncia correta: “Puxa! O carro da mamãe quebrou?”. Estas podem ser formas eficientes e naturais de se ajudar alguém que tem dificuldades.
Desenvolvimento
Podemos dizer que, para a maioria das crianças, a idade média com que começam a falar é a de 18 meses de idade, ou seja, um ano e meio. Algumas são mais apressadas, iniciam as primeiras palavras por volta de um ano, outras, um pouco mais lentas, por volta dos dois anos. Portanto, de 1 a 2 anos de idade, é a variação de tempo em que se espera que as crianças comecem a falar as primeiras palavras.
Se seu filho está nesta faixa de idade, a qualquer momento as primeiras palavras poderão surgir. Porém, se ao chegar aos dois anos de idade, ainda não estiver falando, convém procurar um fonoaudiólogo para uma avaliação de rotina. Mas não é necessário ficar esperando até os dois anos de idade para se saber se uma criança terá problemas em relação à fala. Observe se seu bebê gosta de brincar com sons, como se estivesse falando sozinho. Verifique se, apesar de não falar, ele é comunicativo ou não. Bebês muito silenciosos podem vir a apresentar dificuldades para se comunicar. De qualquer forma, sempre que houver uma dúvida, um fonoaudiólogo pode orientar apropriadamente a família. Orientações para melhor estimular o bebê, quando necessário, podem ser feitas.
Fontes:
Anelise Junqueira Bohnen, fonoaudióloga e presidente do IBF – Instituto Brasileiro de Fluência
Ignês Maia Ribeiro, fonoaudióloga e diretora educacional do IBF – Instituto Brasileiro de Fluência
Jaime Luiz Zorzi ,fonoaudiólogo, diretor e professor do CEFAC – Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica
Bee, H. A criança em desenvolvimento, Porto Alegre, Artes Médicas, 2011.
Scheuer, C.; Befi-Lopes, D.M, Wertzner. Desenvolvimento da Linguagem: uma introdução. In: Fonoaudiologia Informação para a Formação. Guanabara Koogan, 2003.
Wertzner, H.F. Estudo da aquisição do sistema fonológico: crianças de três a sete anos. Revista de Atualização Cientifica, v.7, 1995